Uma análise da interpretação musical
Introdução A música é a mais nobre dentre as artes. Nela não se identifica qualquer reprodução de idéias dos seres do mundo, no entanto, é grandiosa e majestosa, atuando intensamente sobre o que há de mais interior no homem, onde é compreendida como
"linguagem universal ... e reprodução da própria vontade, sendo este o porquê do efeito
da música ser muito mais poderoso e penetrante que o das outras artes, pois todas as outras falam apenas de sombras, mas a música fala da essência."
Através do poderoso efeito da música o homem domou as mais terríveis feras, acalmou tempestades e até mesmo removeu árvores e montanhas. Este homem pode ser chamado de Orfeu, mas pode aparecer com outra centena de nomes, nos mitos e épicos de outras civilizações, de Gilgamesh babilônico ao Popol-Vuh maia. Seja lá seu nome, o maior poder atribuído a um homem, nas sagas e lendas, para dominar todas as manifestações da natureza, não é conferido a um orador, ao poeta ou ao príncipe, mas ao cantor. Orfeu com seu canto e sua lira fez com que os próprios Deuses revogassem a mais imutável das leis, resgatando sua amada Eurídice do mundo das sombras, do passado para o presente. Desta forma, ao dominar o grande poder e magia da música, transmitindo sua força
"um cantor foi capaz de recuperar o irrecuperável - o tempo."
O homem que deseja que a música manifeste sua essência através de si, deve compreendê-la desde sua origem, no inaudível, passando por sua manifestação no plano terrestre, até seu retorno para o âmbito do inaudível. Esta aprendizagem, no entanto, não é um processo unilateral em que o cantor executa "uma receita musical", mas é fruto da interação música/cantor. Nesta interação as forças criativas fluem tanto da música para o cantor quanto do cantor para a música. A análise do processo de aprendizagem de uma canção aqui apresentada é intuitiva, mas metódica. Não é inédita, pois seus elementos são universais e presentes nos tratados de canto. Seu objetivo é interpretar a aprendizagem musical em seu mais elevado grau de refinamento, quando música e cantor se integram e atuam como um único organismo vivo, resultando em maravilhosas vivências musicais, em que a presença do artista se expande de forma radiante e envolve a audiência, enquanto a música inunda todo o ambiente. Para clareza na comunicação, a música será analisada desacompanhada de qualquer texto ou conteúdo programático, pois estes interferem na compreensão musical.
inspirada pela antroposofia.
Débora Letícia Batista